sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Céu

Quero chegar à árvore branca, subo de ramo em ramo na ânsia de o conseguir, ali onde o limite se atinge, onde não existe dor, onde cada um carrega a sua própria água, carrega o que consegue.
Quero ver o mundo do topo, sentir a brisa que me adormece, que me alenta e aquece.

E assim, subo mais um ramo, um pé depois do outro, como se escalasse o Everest, sem cordas de segurança, sem rede de apoio, de pés descalços, com a esperança que não se esquece.
A subida é imensa, folhagem densa, de troncos e flores que me arranham e me marcam a pele, a sua marca em mim, como cortes de faca.

Passados os anos, os ramos parecem os mesmos, mas mesmo assim continuo a subir, como quando era criança, em que uma pequena árvore me deliciava as brincadeiras.
Hoje, continuo a caminhada, mais velha e cansada, a brincadeira tornou-se função, numa razão sem aparência, que pode ser decadência ou pura ilusão.

E assim, chegada ao topo, muito tudo ou muito pouco, os meus dedos passam as nuvens e tocam no céu. O meu cabelo parece que não cresceu, nem o fruto não se deu.
Então eu...fecho os olhos e imagino, os pássaros a caminho, o elefante pequenino, ao de longe o moinho e tu sentado sozinho.

A minha escalada é à minha árvore branca, ramo a ramo, pé ante pé, onde não há dor!

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