quarta-feira, 29 de abril de 2009

Rivalidade e surpresas.

Quando Deus deixa a história é feita,
Onde ele se esconde e ela espreita,
A mãe é a noite a entristecer,
O filho é grande ao entardecer.

A barca velha de livros e rochas,
Piano de cauda e teclas nossas,
Enigma escrito no teu meio seio,
Arcanjo meu que nunca veio.

Volta em ti e com rosto sério,
Aqui se constrói um breve império,
A seu dever veio ao mundo,
Com fim mistério foi ao fundo.

E se é possível amar a dois,
O breve agora e o outro depois,
Nem tudo é claro ou metediço,
A etimologia dos nomes e canivete suíço!

sábado, 18 de abril de 2009

No dia...

...em que as lâmpadas se acenderam em sentido, os comboios pararam em espinha, os carros voaram, as pessoas amarraram se ao cais, os cães deram voz à luta, as árvores deixaram as raízes e iniciaram a marcha do hino, as sombras abriram se, as motas encostaram se ao vento e desligaram motores, os pássaros deitaram se em camas de penas e a música fez se silenciosa.
No dia em que os traços na estrada apontaram noutra direcção, as televisões relataram com definição, os cigarros apagaram se, as cervejas deixaram de ser bebidas frescas, o cheiro do café tornou se perfume dos imortais, os deuses aplaudiram de pé e a lua revelou-se.
Onde os semáforos permaneceram no amarelo remitente, a cruz da farmácia definiu os segundos, nas casas iluminaram se as velas e os mortos vieram à rua...




...eu, dancei!


http://www.youtube.com/watch?v=ip1zsUIosoA



sexta-feira, 17 de abril de 2009

Música Urbana

Pum pum pum pum.
Bater dos pés, ritmar a música que oiço ao longe.
Em cima oiço risos na televisão da vizinha.
Vejo as gotas que caem da torneira da cozinha...plim plim plim. Resolvem compasso, o resto é o bater das mãos nas pernas, nos braços, nas próprias mãos, evito a cara, aí dói...
O relógio faz se ouvir, tic tac tic tac...ele hoje passa a violino.

Eles dormem, o descanso dos miúdos parece tão mais fácil que o nosso. Eles quando dormem, dormem mesmo.

O som da campainha na porta ao lado...o telefone toca ao mesmo tempo, são a corneta e a pandeireta a entrarem acção.

Dlim dlão...
Trim trim...

A voz, falta a voz!

-"Astrid o que é que estas a fazer?"
-"Hummm? Nada! Adormeci..."
-"No banco da cozinha?"

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ataque do miocárdio

Não é amor, nem lei, nem guerra,
É músculo gordo feito em terra,
Fulgor escasso a entristecer,
É fogo fraco que ninguém quer.

Sendo incerto e derradeiro,
É barco isolado em nevoeiro,
Que peca tarde por procurar,
Que tem no início o acabar.

E no mistério do vento que ruge,
Numa dor que vive e surge,
Como relâmpago de certa idade,
Que ilumina a eternidade.

São dois irmãos com o mesmo nome,
Onde um fica e o outro some,
Ninguém sabe qual deles foi,
O que fica hoje é herói.

Assim a faca que o rompeu,
Como as mãos que Lhe entregamos,
Mais um Homem que não morreu,
Deus não aprova que partamos.