terça-feira, 2 de março de 2010

Não há espaço para cobardia

E se o meu corpo pedir a tua alma,
Quando os teus olhos me pedem calma,
De quem veio para ficar,
De quem tem pressa no acabar.
E se o meu corpo pedir o teu cheiro,
Quando os teus olhos me dizem primeiro,
Que mais vale tarde a madrugada,
Que a pressa não nos leva a nada.
E se o meu corpo pedir o teu suor,
Quando os teus olhos me dão a dor,
De quem nunca se entrega ao leito,
De quem nunca enche de ar o peito.
E se o meu corpo pedir o teu corpo,
Quando os teus olhos são de um rei torto,
Que mais valia não ter vindo ao mundo,
Que mais valia estar num sono profundo.
E se o meu corpo desistisse do teu,
Quando os teus olhos me dizem que já morreu,
De quem se esconde nessa tal madrugada,
De quem foge da própria alma parada.

Se assim me pedes a paciência,
Quando tudo o que falta é a presença,
Respondo que sigas e te faças à estrada,
porque esta obra está acabada.