sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ser feliz ao contrário!

-"Bonjour madame!"
-"Bonjour, ça va?"

Entre becos e ruelas escuros como o breu, lá se ouvia uma vozinha ao fundo. Por mais que tentasse encontrar a dona daquela voz, era impossível, só era vista se quisesse.
Ao chegar a casa, depois de 15 minutos concentrada em não me perder no labirinto, (agora é à esquerda, depois outra vez à esquerda...), vejo uma porta em bom estado, tendo em consideração as outras podres! O cheiro daquela terra é inconfundível, mistura de lixo, com gato molhado, com deserto e gelo.
Ao entrar em casa, onde já tinha estado algumas 10 vezes, deparo-me com bailarinas e músicos, luzes, champanhe, risos, gente vestida a rigor, comida que nunca mais acabava, uma mesa posta para 50 pessooas. Personagens do outro mundo como a Anna e o Jonh:

-" Jonh, take me a picture with this hat on!"
-" Sorry honey, i dont have my camera here..."
-" So!!!! Go get it..."

Este foi um entre milhares de dialogos a que assisti, e onde estava longe de me enquadrar!
Tinha acabado de chegar, fui directa para a loja onde já estavam duas miudas prontas para me por um vestido até aos pés. Nem sequer tive hipótese de dizer que não gostava...é assim que vai e pronto! Os sapatos também já estavam alinhados, a condizer com o vestido, com as unhas, com os cabelos, com o colar, pulseiras...pfffffffff! Em 15 minutos passei de mendiga a cinderela!

Ao jantar, estavam portugueses, franceses, marroquinos, americanos, irlandeses, colombianos, brasileiros, espanhois, raios...uma autêntica torre de Babel!

A mim só me vinha à cabeça aquela voz...e de quem seria!?

Meia noite, ano novo! Já tudo bebido, a andar aos S's...passou me pela cabeça arriscar e sair dali para fora e procurar outras festas, outras vozes.
Assim o fiz, descalcei-me, vagueie pela medina durante meia hora até a ouvir outra vez!

-" Bon soir madame!"

Dei por mim em casa da Farah, mais os pais e os 5 irmãos, onde a única coisa que havia era pão e chá de menta, aqueciam se com uma fogueira, cantavam e dançavam com uma alegria que nunca tinha visto, para eles era um dia normal, sem importância de datas e horas.
Entre o árabe e francês, a mim pouco me importava se não percebia patavina do que diziam, bastava me as gargalhas do Hassan, o pão da Haya e as brincadeiras do Hussain e da Latimah!
Saí de lá já era dia, deixei o vestido, os sapatos, o colar e as pulseiras com a Farah...
Hoje, ainda tenho os sapatos dela, o sabor do pão e do chá, o quente da lareira, e as gargalhadas ecoam na minha cabeça! Talvez um dia os reveja!

"InchAlá"

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