segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Tela




Tenho pena de ti. Como sofres nas minhas mãos, aos meus pés.
Chegas de longe, com pele rugosa para que te prendam, deixas-te usar como uma mulher de cama incerta, vadia da noite, companheira de after-hours.
Deixas que te abusem, sem te queixares, sem opinares. És mulher do mundo mas única, em ti nasce a criação de outro vagabundo, e tornas um principiante num ídolo de multidões.

Chegas virgem e imaculada,
Sem qualquer marca de estrada,
Sem vincos ou rachas à cintura,
Imagem breve que nas minhas mãos não perdura,
Descarrego todos os sentimentos e sons,
Maravilho-me com a tua cor e ternura,
Fixo-me na tua imaginação e nos meus dons.

Encho-te de cor e linhas,
Invento formas e adivinhas,
Misturo tintas na criação,
Desgasto-me em ti...

Mas tu, aos meus olhos não!

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom, Astrid
Pacheca