quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Morte anunciada

10h da manhã, 1998

Encontro te no comboio, já lá estavas quando entrei na terceira paragem, na penúltima carruagem, como faço todos os dias.
Os meus joelhos cederam, as mãos tremeram como varas verdes, a minha boca secou e engoli a falta de ar assim que os nossos olhares se cruzaram.

Havia apenas um lugar vago na carruagem e era o que estava ao teu lado.

Sento me? Não me sento, não tenho coragem...

Deixei me ficar de pé, encostada a uma das portas com vista para ti, nem o mar é tão bonito, nem o mar se compara aos teus olhos.
A viagem que um dia se tornara monótona, nesse dia tornou-se na viagem da minha vida, como se tivesse descoberto o caminho para o centro da terra, ou o segredo para chegar ao céu sem passar pela casa de partida.

Onde será que ele vai sair? Espero que seja na última, por favor que seja na última!

Cada vez que aquele comboio parava eu rezava para que ali te mantivesses, sentado, a olhar, a contemplar o que os teus olhos te ofereciam, e também eu estava incluída nessa geometria.

Vou me sentar ali!

...


Porque é que eu não me sentei?
Porque é que nunca mais te vi??